12 de abril de 2010

MEU NETO

"Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos como sabe-lo:?", diz Vinícius de Moraes, em seu Poema Enjoadinho.
Mas, no final, acaba confessando; "porém que coisa, coisa louca, que coisa linda, que os filhos são1"
Os filhos são, realmente, uma dádiva de Deus.
Mas como eles não trazem de "fábrica" o manual de instrução no orientando como criá-los, rapidamente nos conscientizamos da enorme responsabilidade que temos para torná-los pessoas de bem, solidárias, generosas, de caráter, acima de tudo.
E esta não é uma tarefa fácil, de jeito nenhum.
Na época em que os filhos nos chegam, estamos acumulando inúmeras funções: de mãe, de esposa, funcionária, por vezes estudante e anjo da guarda para que eles não se percam no difícil caminho da vida, neste mundo de tanta atribulação como é hoje.
Mas, com a graça de Deus, meus dois filhos são minha alegria e meu orgulho.
Agora, quando nos chegam os netos...
Já estamos disponíveis para apenas amá-los. A tarefa de educá-los cabe aos pais. Que nos acusam, aliás, de só "estragá-los, já que não sabemos dizer não a eles.
Se os filhos são uma dádiva de Deus, o que dizer dos netos que eles, os filhos, nos dão?
Assim foi a chegada do meu neto em minha vida.
Já no primeiro encontro ele me olhou como se estivesse reconhecendo uma antiga amiga. Dali em diante, o amor só cresceu e se enraizou.
Ser avó é a coisa mais maravilhosa que me aconteceu.
Quanta alegria os netos nos trazem! Como estes pequenos seres enchem o nosso coração de um amor sem limites.
Dormir ao seu lado, escutar sua voz sussurrando: "segura minha mão, vovó?"
Sentar no chão, brincar com seus bonecos, de He Man, Shira, e sei lá eu mais quantos os bonequinhos tinham...
Ir à praia, fazer castelos de areia... abrir túneis e vê-lo colocar a mãozinha para sair do outro lado e rir, rir muito, com tamanha proeza...
As lembranças vão vindo, como "flashes" em minha memória afetiva.
Com dois aninhos, ainda não dominando bem as palavras, pulando em cima de minha cama, viu uma reprodução do quadro pintado por Rubens  de "Jesus entre os dois ladrões".
"Quem é, vovó?"
"Papai do Céu"
"Onde ele está?"
"Na cruz"
"Quem botou o Papai do Céu na cúz?"
E a explicação fantasiosa que eu achei na hora, dizendo que Jesus disse "Eu tenho a força!", que nem o He-man, que eu achei que ele entenderia. E entendeu. E não perguntou mais nada.
Ele, no meio de outras crianças, ainda na Escolinha Raio de Sol, reconhendo minha voz num teatrinho improvizado (comemoração do Dia das Mães) contanto a história do Chapeuzinho Vermelho... E dizendo bem alto: "essa é a minha avó!"
Pedindo que eu contasse histórias e no final, "de novo, vovó!", três, quatro vezes. E se eu, traída pela memória e pelo cansaço mudasse alguma palavrinha que tivesse dito na primeira vez, na hora ele corrigia: "não é assim, não vovó1"
Seus olhos arregalados, ouvindo a história da mulher desgrenhada, com uma faca na mão... passando manteiga no pão! e ele aliviado, rindo, rindo muito!
O dia em que um ruido no céu chamou sua atenção (estávamos na praia) e ele me perguntou: "o que é aquilo vovó?" E eu lerda, disse: "uma asa delta, meu querido!"[
E ele: "não é não sua boba. É um ultraleve"...
São tantas as lembranças... o tempo passou tão veloz...
Hoje ele é um homem. Graças a Deus, um homem de bem.
Mas quando me chama vovó, é como se virasse um menininho de novo e o meu coração se derrete.
Nem sempre tem muita paciência com meus esquecimentos, as falhas advindas da idade avançada, mas tenho certeza que me ama assim mesmo.
Fica muito aflito quando me vê doente (o que é comum, na atualidade).
Seu sorriso é como um farol iluminando o final desta minha caminhada.
Para ele, pelo ao Senhor Jesus, todas as noites, tudo de bom que a vida possa proporcionar.
E agradeço a suprema alegria de ter me dado a chance de ser avó dele!

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