26 de março de 2010

AS PLANTAS E MINHA MÃE

Mamãe adorava plantas. Formar hortas, pomares, jardins, lhe dava um grande prazer. Fazia este trabalho com a maior alegria.
Seu programa predileto era passar os fins de semana no sítio “Chapéu de Palha”, da prima Leda e de seu marido Antônio Carlos.. Gostava de plantar árvores. Para a casa de sua prima Conceição, na Avenida Desembargador Santos Neves, Praia do Canto, trouxe, de Santa Catarina, uma ameixeira amarela.
Nos sítios de Leda e de Penhóca em Campinho de Santa Isabel, também andou espalhando árvores.
Moramos por alguns anos em uma chácara, em Aribiri, no município de Vila Velha. Lá já existiam varias árvores frutíferas, Mamãe então se dedicou a formar uma horta, de onde colhia alface, repolho. Rabanete, temperos verdes, bertalha, espinafre... Fez também uma latada de chuchu. Assim, tínhamos todos os dias, em nossas refeições, verduras e frutas fresquinhas.
Também amava as flores. Plantou ao lado de nossa casa um canteiro de gerânios, sua flor predileta.
Por onde andava, trazia sempre uma cor diferente. Era como se trouxesse um troféu conquistado... Chegou a ter 25 tonalidades diferentes de gerânios. E suas mãos tratavam as flores com tanto amor que o canteiro chamava a atenção de todos aqueles que passavam pela frente de nossa casa.
Olavo Bilac, em um dos seus mais lindos sonetos - Via Láctea - disse que “só quem ama pode ter ouvidos capaz de ouvir e de entender estrelas...” Nosso Rei, Roberto Carlos confessa que também conversa com suas plantas, que elas o entendem e respondem ficando a cada dia mais viçosas...
No relacionamento da mamãe com suas flores não faltava amor, daí porque conseguia conversar com elas.. O que diziam, não sei. Mas que as plantas a entendiam, entendiam. . Ora se não!
Não gostava de dar mudas de suas flores. Não negava. Mas, adiava para quando o pé da cor pedida não estivesse florido. Dizia que tirar uma muda naquela fase, prejudicaria a plantinha...
Um dia, seu canteiro amanheceu destroçado. Alguém entrara, à noite e arrancara não apenas mudas, mas os pés inteiros. Mamãe quase morreu de tristeza. Tentou refazer o canteiro. Mas a mão de quem a havia “roubado”, devia ter uma energia bem ruim. Baldados foram seus esforços. Nunca mais nasceu nada naquele que outrora havia sido um canteiro tão lindo...
Conformou-se com os vasos, onde plantava begônias, violetas, samambaias de metro lisas, crespas, etc.
Plantei um flamboyant na frente da nossa casa. Cresceu forte, estirou seus galhos, transformou-se em uma árvore frondosa, bonita. Porém, nunca floriu.
Na véspera de retornamos para nossa casinha no final da Rua Sete de Setembro, a vi conversando com o meu flamboyant. Dizia: “é, minha filha nunca viu uma florzinha nascer em seus galhos.... Vamos embora amanhã e você não lhe deu esta alegria..”.. E o papo foi por aí...
Na manhã seguinte, a ouvi me chamando: “filha, venha ver, venha ver!” Entre a folhagem, lá estava, tímida, a primeira flor do meu flamboyant! Foi quando fiquei sabendo que era de uma tonalidade alaranjada, muito bonita.
E mamãe feliz, dizia: “não disse que ele ia me atender? Eu tinha certeza!”
Esta era a minha mãe, com um coração tão cheio de amor e sabedoria que conseguia entender e conversar com as plantas.

Thelma Maria Azevedo
28/01/2009

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