5 de maio de 2010

Meu bisavô, o "pai Geno"

Galdina Bruno, minha trisavó, teve 3 filhos, um dos quais o meu bisavô José Eugênio Bruno. Dele, sei que lutou na guerra do Paraguai.  Os seus relatos sobre o quanto ele e seus colegas de farda sofreram, naquela guerra, ao serem empurrados de volta, pelo exército paraguaio, atravessando charcos, florestas, rios, e sei mais lá o que, deixavam os que o ouviam horrorizados.
Sem comida, nesta fuga, o mais importante era manterem seus cavalos vivos, pois sem eles não teriam nenhuma chance de sobrevivência.
Assim, davam aos animais o mínimo de milho economizado a duras penas. Este mesmo milho, catado posteriormente nas fezes dos cavalos, servia de alimento para os soldados.
Quando morreu, bem velhinho, meu bisavô teve um enterro de herói com honras e caixão coberto com a bandeira da pátria pela qual lutou.
Lembro-me de mamãe contando esses fatos que marcaram a presença na guerra do Paraguai do meu bisavõ José Eugênio Bruno, "o pai Geno", desde a minha infância. Fatos que eram recebidos como "lenda" ou até mesmo como "piada" pelos membros mais novos da família, o que deixava a minha mãe profundamente indignada.
Hoje, aos 79 anos, tendo lido muito e visto inúmeros documentários sobre as barbaridades cometidas nas guerras não ponho em dúvida se, realmente, tais fatos aconteceram  como me foram contados.
Um fato ligado à nossa trisavó Galdina Bruno vale a pena aqui registrar. Quando estourou a guerra do Paraguai, em 1865, ela levou o seu filho mais velho para alistar-se e lutar pelo Brasil.
Meses depois, recebeu uma carta de condolências do governo brasileiro, comunicando que o rapaz havia perecido em combate.
Recompondo-se desta perda, mas sem perder a coragem e a bravura, ela repetiu o gesto, desta vez levando o filho do meio, que teve o mesmo destino do primeiro.
Levou o filho mais moço, José Eugênio para alistá-lo, imbuída daquele amor à patria que ultrapassava o próprio amor materno.
Naquela oportunidade foi informada, pelas autoridades competentes, do seu direito de receber do governo brasileiro, uma pensão pelos filhos mortos em combate.
Aprumando-se altiva, do alto de sua dor e luto, respondeu que "enquanto lhe restasse dinheiro na guaiaca (cinco largo, de camurça, provido de bolsinhos), não precisava da ajuda financeira do governo brasileiro".
Estava levando mais um filho para lutar pelo Brasil.
Felizmente o José Eugênio, que viria a ser tratado na intimidade da família como "o pai Geno", voltou vivo.
Pobre da trisavó Galdina. Com todo o devido respeito que tenho pelo seu grande amor ao Brasil, ela não fazia a menor idéia dos reais motivos (puramente econômicos) do imperialismo britânico escondidos por trás dos acontecimentos que motivaram aquela guerra.
No prefácio de "Genocídio americano: a guerra do Paraguai", Júlio José Chiavenatto, diz o seguinte:
"Durante mais de cem anos pairou uma onda de mentiras sobre a guerra do Paraguai. Junta-se a essa onda de mentiras um silêncio criminoso, procurando ocultar de todas as formas possíveis o que foi aquela guerra, para os povos envolvidos.
A principal barreira para impedir as respostas que nos levam à verdade é justamente a manipulação da onda de patriotismo que os historiadores oficiais criaram descrevendo fenômenos esparsos dessa guerra, para denunciar toda posição crítica como antipatriótica. Os heróis, falsos e verdadeiros, abundam na historiografia brasileira dessa guerra, que só terminou em primeiro de março de 1870, com a morte do presidente Solano Lopez."
Ainda de acordo com Júlio José Chiavenatto, quando Solano Lopez assumiu a presidência do Paraguai, este era o mais próspero e progressista país da América do Sul.
Tinha uma indústria de base, não tinha dívida interna ou externa, não existiam analfabetos.
Era o país da América do Sul mais bem dotado de melhoramentos modernos como o telégrafo, ferrovias e linhas de navios para a Europa, entre outros.
Tinha os depósitos cheios de fumo e erva-mate destinados à exportação e alimentos para o seu povo.
Era o mais estável regime político das Américas.
Possuía o mais moderno sistema de moeda e de papel-moeda, cunhadas e impressos, respectivamente, em Assunción, capital do país.
Estava livre da ingerência de bancos estrangeiros na sua economia: paradoxalmente, foi a sua sentença de morte.
As consequências dessa guerra para o Paraguai foram seríssimas. O país perdeu 140 mil quilômetros quadrados do seu território e metade de sua população masculina.
Sua indústria foi completamente destruída.
O Brasil, um dos "vencedores" da guerra ficou com uma dívida espantosa junto aos bancos ingleses. Só os juros que o Império Brasileiro teve que pagar, por empréstimos obtidos daqueles bancos, evoluíram, nos anos de 1871 a 1889, de 3.000.000 para 45.504.100 libras.
Mas esta é uma outra história...

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