6 de abril de 2010
MEU DESABAFO
Li, durante estes dias tristes, tenebrosos, de dor e de luto em que todos nos encontramos, um desabafo de uma mãe que perdeu seu filho nesta tragédia do avião da TAM: ela está com vergonha de ser brasileira. E eu, como mãe e avó que sou, me solidarizo com ela e digo que também, em muitos, muitos momentos de minha longa vida, também me envergonho de minha nacionalidade.
Quando vejo a incompetência das pessoas que são colocadas para assumir responsabilidades, ocupar cargos em que a vida de centenas de pessoas estão dependendo de suas atitudes, seus cuidados, sem que tenham a menor condição para isto, indicados apenas por conchavos políticos... eu me envergonho.
Quando vejo vir à tona escândalo atrás de escândalo, sem que ninguém seja punido...me envergonho.
Quando vejo como se formam blindagem de proteção para os que são corruptos, safados, para que seus próprios erros não sejam do conhecimento da população...Lembro-me de uma frase de minha avó: gado ruim, por si só se arrebanha... A maioria, a grande maioria dos que estão hoje no legislativo, judiciário ou executivo, têm rabo preso e daí o “compromisso”de fazerem vistas grossas a tudo que acontece...e eu me sinto envergonhada.
Quando vejo a ganância inescrupulosa que na busca de maiores ganhos, nossos dirigentes, sejam eles de qualquer um dos três poderes, põem em último lugar a segurança das pessoas ... me envergonho.
Mas, quando assisto um gari de um aeroporto devolver uma carteira com dez mil e tantos dólares, quando ele e sua família sobrevivem com um pequeno salário, me volta o orgulho de ser brasileira...
Quando vejo um recolhedor de bolinhas de golfe, achar uma carteira recheada de dinheiro e devolvê-la ao dono... me orgulho de ser compatriota daquele verdadeiro cidadão, que talvez nem saiba que o é.
Quando vejo o trabalho dos bombeiros, arriscando suas vidas para tentar salvar a de seus semelhantes engolidos num incêndio de proporções gigantescas, eu me orgulho de saber que nasci no mesmo país que eles...
Quando lembro daqueles dois adolescentes que devolveram um saco contendo o resgate da esposa de um de nossos empresários, eles que moravam numa palafita e viviam de recolher lixo...me orgulho e muito de ser como eles, não apenas brasileira, mas capixaba de coração...
Quando vejo médicos, sem as menores condições de trabalho, com lágrimas nos olhos, serem obrigados a se posicionar como Deus e escolher quem vai viver ou morrer, num hospital abarrotado de doentes, largados em macas, ou até pelo chão... me orgulho de saber que são, como eu, brasileiros..
Quando vejo uma pessoa interferir para evitar um assalto a uma pessoa que lhe é completamente estranha e ficar para sempre numa cadeira de rodas, por um tiro que não lhe era destinado, porque falou nele mais alto o instinto da solidariedade humana, já tão rara nos nossos dias... eu me orgulho de ser, não apenas brasileira, mas de pertencer à raça humana...
Os exemplos são, ainda, muitos e muitos... de verdadeira cidadania, amor ao próximo, ética no desempenho de sua profissão...
A vida da gente não está sendo nada fácil.
Quando vejo a incompetência das pessoas que são colocadas para assumir responsabilidades, ocupar cargos em que a vida de centenas de pessoas estão dependendo de suas atitudes, seus cuidados, sem que tenham a menor condição para isto, indicados apenas por conchavos políticos... eu me envergonho.
Quando vejo vir à tona escândalo atrás de escândalo, sem que ninguém seja punido...me envergonho.
Quando vejo como se formam blindagem de proteção para os que são corruptos, safados, para que seus próprios erros não sejam do conhecimento da população...Lembro-me de uma frase de minha avó: gado ruim, por si só se arrebanha... A maioria, a grande maioria dos que estão hoje no legislativo, judiciário ou executivo, têm rabo preso e daí o “compromisso”de fazerem vistas grossas a tudo que acontece...e eu me sinto envergonhada.
Quando vejo a ganância inescrupulosa que na busca de maiores ganhos, nossos dirigentes, sejam eles de qualquer um dos três poderes, põem em último lugar a segurança das pessoas ... me envergonho.
Mas, quando assisto um gari de um aeroporto devolver uma carteira com dez mil e tantos dólares, quando ele e sua família sobrevivem com um pequeno salário, me volta o orgulho de ser brasileira...
Quando vejo um recolhedor de bolinhas de golfe, achar uma carteira recheada de dinheiro e devolvê-la ao dono... me orgulho de ser compatriota daquele verdadeiro cidadão, que talvez nem saiba que o é.
Quando vejo o trabalho dos bombeiros, arriscando suas vidas para tentar salvar a de seus semelhantes engolidos num incêndio de proporções gigantescas, eu me orgulho de saber que nasci no mesmo país que eles...
Quando lembro daqueles dois adolescentes que devolveram um saco contendo o resgate da esposa de um de nossos empresários, eles que moravam numa palafita e viviam de recolher lixo...me orgulho e muito de ser como eles, não apenas brasileira, mas capixaba de coração...
Quando vejo médicos, sem as menores condições de trabalho, com lágrimas nos olhos, serem obrigados a se posicionar como Deus e escolher quem vai viver ou morrer, num hospital abarrotado de doentes, largados em macas, ou até pelo chão... me orgulho de saber que são, como eu, brasileiros..
Quando vejo uma pessoa interferir para evitar um assalto a uma pessoa que lhe é completamente estranha e ficar para sempre numa cadeira de rodas, por um tiro que não lhe era destinado, porque falou nele mais alto o instinto da solidariedade humana, já tão rara nos nossos dias... eu me orgulho de ser, não apenas brasileira, mas de pertencer à raça humana...
Os exemplos são, ainda, muitos e muitos... de verdadeira cidadania, amor ao próximo, ética no desempenho de sua profissão...
A vida da gente não está sendo nada fácil.
ILHA...
ILHA...
Aprendemos, ainda nas primeiras séries do Grupo Escolar, que “ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados”...
Mas para mim, ilha tem um significado muito, muito maior do que didático, pois .nasci numa delas.
Muito linda, cheia de praias, hoje é considerada uma das cidades brasileiras com ótima qualidade de vida: Florianópolis, capital de Santa Catarina. A ponte “Hercílio Luz” é um cartão postal conhecido em todo o país.
Como o Guga, nosso premiado tenista, sou “uma manezinha da ilha”...
Com dois anos apenas, nos transferimos para outra ilha, resultado da transferência funcional de meu avô materno.
Esta ilha, abençoada do alto de um morro pela Virgem Mãe de Deus, é Vitória, capital do Espírito Santo..
Nela me criei, estudei, fiz primeira comunhão, namorei, casei, tive meus dois filhos. Fiz minha vida profissional, como funcionária pública estadual. Adotei esta ilha “que é uma delícia” (como dizia Carmélia Maria Souza) como minha, de todo o coração. Tenho por ela um amor muito grande. Embora não esqueça as minhas raízes.
Mas o fato de que esta ilha é cercada por todos os lados pelo mar, me fez ser apaixonada por ele também. E este amor “marítimo” tem uma explicação.
Meu pai era pescador.
Quando cheguei àquela idade em que as crianças começam a perguntar “de onde eu vim?”, meu pai costumava contar que numa noite, saiu com sua tarrafa para pegar um peixe para o jantar. Era uma noite fria e ele lançou sua tarrafa umas três vezes sem sucesso. Na quarta.tentativa sentiu a tarrafa pesada. Ficou todo alegre, achando que finalmente o jantar da família estava garantido.
Porém, quando puxou a tarrafa, viu que nela tinha vindo, não um peixe, mas uma menininha, toda roxinha de frio... Pegou-a e a levou para casa...
Eu adorava saber que tinha “nascido” do mar. Quando anos mais tarde, me contaram a história de como os bebês nascem, de uma sementinha, etc. etc. tive a maior desilusão...
A história que meu pai contava era bem mais bonita...
Vitória, conhecida como cidade-presépio, é realmente muito querida ao meu coração. Já dela me ausentei várias vezes. Mas como dizem os indianos, eu vou e volto... Sempre que aqui chego me sinto realmente voltando ao meu lugar. Ao meu cantinho, neste vasto mundão de meu Deus.
5 de abril de 2010
UM EXAME DE VISTA
Ela estava na sala de espera do oftalmologista do Detran, esperando sua vez de ser examinada para a renovação de sua carteira de motorista.
Nunca foi dessas mulheres que se realizam atrás de um volante. Pelo contrário, Já tinha mais de 40 anos quando literalmente “empurrada” pelo marido, entrou numa escola de motorista. Enquanto as pessoas normalmente levam 15 dias para se habilitarem ao exame, ela levou 30 dias.
Nos 12 ou 15 anos em que dirigiu nunca se sentiu à vontade. Sempre tensa, preocupada.
Ouvia piadas dos familiares, com os apelidos ora de tartaruga, ora de Fittipaldi...
Não dava bola.
O seu automóvel, um Fusquinha, era parte da família, um amigo com o qual até conversava, que nem acontecia naquele filme Se o meu Fusca falasse...
Mas voltemos à vaca fria, ou seja, ao exame que estava prestes a realizar-se.
De repente, a funcionária que preenchia a sua ficha a chamou e perguntou:
-“A senhora é doadora de órgãos? Porque, se é, essa informação precisa constar de sua carteira de motorista. Agora é lei.”
Pensou.
-“Tudo bem, pode colocar aí que sou doadora.”
Voltou pro seu lugar.
E começou a fazer uma imagem (como nas histórias em quadrinhos) do diálogo entre seu filho e o médico, após seu falecimento.
-“A sua falecida mãe era doadora de órgãos, consta aqui de sua carteira de motorista. O senhor sabia disso?”
-“Sim, senhor”,
-“Bem, então, podemos aproveitar o coração...”
-Olha doutor, o coração não vai adiantar, não...Ela sofria de hipertrofia miocárdica grave, congênita, é um milagre que tenha sobrevivido tanto...”
-Bom... E os rins? Estes vamos poder aproveitar, não? Serão dois pacientes beneficiados...”
- Hum... o senhor é que vai avaliar, doutor. Ela já teve tantos cálculos renais que, se fossem diamantes, a família estava rica...”
- “Ah... assim sendo...E os pulmões?”
-“Olha doutor, teve asma por tantos anos, a coitada...”
-“Ah, mas nos restam as córneas! Os olhos estão em perfeito estado, não?”
“Que nada, doutor, além de usar óculos com lentes tão grossas que nem fundo de garrafa, ainda operou, de catarata, recentemente, o olho direito...”
Nessa altura da “conversa”, o filho movido por uma pontinha de remorso, sentiu-se na obrigação de dizer que a mãe (por amor de Deus...) havia ido para a Grande Viagem com alguma coisa saudável. E apressou-se em dizer:
-“ Boa mesmo, doutor, era a cabeça dela... Se já existisse transplante de cérebro, isto sim, alguém poderia aproveitar bem...”
O médico, desencantado, se afasta.
E ela, pensando na cara do filho, após esse diálogo, estava às gargalhadas...
Os outros candidatos a futuros motoristas, sentados na sala, esperando sua vez, a olhavam espantados.
O médico a chamou para os testes. E, ao levantar-se e passar para a sala do exame, ouvia os sussurros, os comentários:
-“Esta biruta vai poder dirigir?! É um absurdo! Está se vendo que não bate bem da cabeça! Olha só como ri sozinha!”
-“Esta biruta vai poder dirigir?! É um absurdo! Está se vendo que não bate bem da cabeça! Olha só como ri sozinha!”
Thelma Maria Azevedo
Antologia “Clepsidra”, da AFESL, 2007
VISITA A ESCOLA MUNICIPAL "EDNA MATTOS SIQUEIRA GAUDIO", NO BAIRRO JESUS DE NAZARETH
Dia 17 de março próximo passado a convite da professora de artes, Silvana Sampaio, estive nessa Escola para apresentar minha pesquisa sobre "A mulher no século I, no tempo de Jesus". Foi uma experiência muito gratificante. Ainda sob o impacto da emoção que senti, no dia seguinte enviei para minha colega da Academia Feminina Espírito-santense de Letras através de e=mail o seguinte agradecimento: "Silvana, minha querida companheira mosqueteira, você não imagina a alegria que deu a esta sua idosa amiga, ontem. A carinhosa receção das professoras, da sra. diretora da Escola, a postura respeitosa e atenciosa dos alunos, que na sua maioria acredito trabalharem durante o dia e ainda reunir forças para buscar o ensino, à noite, num sonho de crescer na vida através do conhecimento, tudo me comoveu. Não existe nada que pague o que senti. E tudo ainda coroado com o presente que recebi de você, um terço abençoado vindo da Igreja de Nossa Senhora Aparecida do Norte. Pelas suas mãos, que ingressou na AFESL junto comigo. A palavra é pobre para expressar minha alegria e gratidão. Por favor, transmita a todos os alunos, de comportamento exemplar, ao corpo docente, a todos enfim, meu profundo agradecimento por uma noite muito feliz que eu vivi e que ficará na minha lembrança. Beijão da Thelma.
3 de abril de 2010
O Jornal "A Ordem", do dia 27/02/2010, de São José do Calçado, que meu amigo Edson Lobo Teixeira me enviou, traz em seu bojo e em sua última página uma foto do acadêmico e vereador Warley Lobo Teixeira, uma homenagem dos familiares, amigos, do povo calçadense e de todos os companheiros da administração municipal e diz o seguinte:
"Há pessoas como meteoro: passam rápido pela nossa vida e deixam um deslumbrante raio de luz. Assim foi Warley Lobo Teixeira no breve espaço do tempo terrestre, com sua simpatia, liderança, dinamismo e amor a Calçado, deixou entre as nossas montanhas e flores, um rutilante rastro de luz, que jamais será esquecido pelos calçadenses."
Warley além de vereador em seu terceiro mandato, era membro da Academia Calçadense de Letras, onde ocupava a cadeira n.25, cujo patrono é o dr. Francisco Vieira de Rezende. Foi brutamente assassinado dia 21/02/2010.
29 de março de 2010
JULGAMENTO DOS NARDONI
Acompanhei, como todo o país, os cinco dias finais do julgamento dos assassinos de uma criança de cinco anos que passou a ser conhecido como “O CASO ISABELA”.
Ouvi peritos, delegados, promotores, advogados, familiares, vizinhos, muitas pessoas que de uma forma ou de outra tinham algo a dizer sobre o caso.
E em determinado momento ouvi o promotor que atuou no caso da Suzane (aquela que planejou o assassinato dos pais) dizendo que todos deveríamos ter compaixão tanto dos pais dos assassinos quanto tínhamos da mãe da Isabela.
Lembrei, naquele instante, de uma carta divulgada pela Internet de uma mãe que perdeu um filho jovem, com a vida pela frente, rapaz correto, motivo de orgulho para os pais, assassinado por um marginal que lhe queria tirar o relógio. O que o rapaz deu, sem oferecer resistência. E o assassino o matou, sem dó nem piedade.
A carta daquela mãe dirigida à mãe do assassino, que pedia compaixão para a sua dor, dizia que ela tinha sim, muita pena dela. Porém, no próximo domingo, dia de visita no presídio, ela poderia ir abraçar o filho. Todavia, a ela só restava ir colocar flores no túmulo do filho assassinado com a certeza de que jamais o teria de volta, para que pudesse também abraça-lo.
Hoje, ouvi a Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabela dizendo que nada traria sua filha de volta. Nunca mais tornará a vê-la, acompanhar seu desenvolvimento, vê-la se formando, quem sabe casando... Este direito lhe foi tirado.
Acho nossas leis uma vergonha.
Os milhares de recursos, de furos, de atalhos para que culpados fiquem impunes, envergonham as pessoas corretas deste infeliz país. O assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho completou 7 anos recentemente e o suspeito de ser o principal mandante do crime está na rua.
Sua pena (se é que se pode chamar de pena) foi uma aposentadoria proporcional ao tempo de serviço. Quem leu o livro “ESPÍRITO SANTO” escrito pelo juiz Carlos Eduardo Lemos, pelo dr. Rodney Rocha Miranda, Secretário de Segurança do Estado, e Luiz Eduardo Soares, fica pasmo com a corrupção entranhada nos poderes executivo, legislativo e judiciário do Espírito Santo. Que não é exceção à regra, infelizmente.
Quem tem recursos para pagar bons advogados que conhecem estas brechas de nossas leis, dificilmente vai para a cadeia . E quando vai, começa aquela história que só existe no Brasil de pena progressiva, que vai diminuindo a pena inicialmente dada ao criminoso. Em pouco tempo ele já estará livre.
Lembro-me de que, há muitos anos, estudava para prestar um concurso público. Uma das provas que faríamos era de Noções de Direito: cível, criminal, previdenciário, tributário, trabalhista, etc. Meu colega, advogado, dr. Antonio Romildo Andrade me perguntou se eu já havia assistido alguma vez um julgamento.
Não, nunca. E ele me levou para assistir a um no Fórum de Vila Velha.
O réu era um empregado de um armazém, que havia roubado um “pedaço de charque e duas pernas de lingüiça” para os filhos jantarem. Já estava preso há dois anos aguardando julgamento. O seu advogado era um defensor público, já que ele não tinha dinheiro, obviamente, para pagar os honorários de um advogado.
Estranhei e muito, o procedimento dos participantes, O promotor não prestava a menor atenção quando o defensor falava. O juiz por vezes até se ausentava da sala. Nunca tinha visto aquilo acontecer nos julgamentos dos filmes policiais americanos, os únicos que eu conhecia até então.
Só gostei quando o defensor disse que o gasto que a Justiça estava tendo, com aquele julgamento era uma afronta aos contribuintes. No final do julgamento, entendendo que ele já tinha sido punido o suficiente, soltaram o homem. Mas ele já tinha cumprido dois anos de cadeia. Naqueles dois anos, o que os filhos dele e a mulher passaram? Fome, privações de toda a ordem? Este é o nosso país.
Até quando nossos legisladores assistirão impassíveis tais absurdos acontecerem? É o que me pergunto, indignada.
Thelma Maria Azevedo
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